30 de dez. de 2009

CAMPANHA DA FRATERNIDADE ECUMÊNICA 2010

O texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010 (1) é um planejamento estratégico para as comunidades cristãs, pois traz um objetivo geral, objetivos específicos e estratégias, que devem ser trabalhadas nas áreas social, eclesial, comunitária e pessoal. Se meu entendimento estiver correto, definidos os objetivos e estabelecidas as estratégias, a próxima etapa do planejamento deveria ser elaborar os planos destinados a operacionalizar as estratégias. Queremos buscar linhas de compromisso concreto e de ação...” (Item 106).

Nesse sentido, considerando os objetivos da campanha e os esclarecimentos constantes do capítulo “Promover a vida”, entendo que o Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257, de 10.07.01) que, em sua essência, é uma permanente “campanha de fraternidade”, deveria ser incorporado, direta ou indiretamente, ao texto-base da campanha. Em outras palavras, as estratégias da campanha seriam operacionalizadas através dos Planos Diretores que constituem o instrumento básico da administração municipal, principalmente porque não se muda o todo, o país, sem mudar as partes, os municípios, e é nos municípios que se concretizam as ações de governo, sejam elas federais, estaduais ou municipais.
Além disso, existe perfeita sintonia e complementaridade entre a Campanha e o Estatuto da Cidade, conforme se observa, por exemplo:

a) enquanto a campanha se preocupa em “denunciar a perversidade de todo modelo econômico que vise em primeiro lugar o lucro, sem se importar com a desigualdade, miséria, fome e morte” (Item 19), o Plano Diretor que “que não tiver como prioridade atender as necessidades essenciais da população marginalizada e excluída das cidades estará em pleno conflito com as normas constitucionais norteadoras da política urbana, com o sistema internacional de proteção dos direitos humanos, em especial com o princípio internacional do desenvolvimento sustentável”; e

b) enquanto a campanha destaca a importância da ação coletiva para a transformação social, o diálogo permanente, a articulação das forças sociais, a colaboração entre Igrejas e sociedades (Item 107), o inciso II do artigo 2º do Estatuto da Cidade estabelece que a cidade deve ser administrada de forma democrática, por meio da participação da população e das associações representativas dos vários segmentos da comunidade.

“Sem passar a ações bem concretas na vida de cada pessoa e da política de Estado, sem dar novos rumos às metas e finalidades da organização da economia, toda boa intenção e todo bom discurso moral se tornam vazios” (Item 106).

No item 106 acima, encontram-se os verdadeiros desafios da campanha: primeiro, “ações bem concretas na vida de cada pessoa”; segundo, “ações bem concretas na vida da política de Estado”. A concretização das segundas depende diretamente da concretização das primeiras, pois ações concretas na vida da política de Estado exigem uma participação efetiva na gestão dos negócios públicos municipais, que não se restringe, obviamente, a votar de 4 em 4 anos.
Para participar da administração da cidade – e, desse modo, realizar de forma mais ampla os objetivos da Campanha da Fraternidade -- é essencial uma profunda mudança de mentalidade na vida de cada pessoa. É preciso que as pessoas, por exemplo, resistam “à tentação de transformar o culto a Deus em moeda para obtenção de prosperidade” (Item 109); entendam que “o cristão é um servidor, não alguém que recorre a Deus em busca de favores” (Item 109); percebam que “ser servidor do Reino não é só orar, é também testemunhar no mundo os valores do Evangelho” (Item 110); e, principalmente, se conscientizem de que “o Pai e eu somos um” (Jo 10,30), razão pela qual o único caminho é “amar a Deus e ao próximo como a si mesmo”.
Participar do processo de gestão do município – conforme previsto no Estatuto da Cidade – está integralmente de acordo com o texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010, além de ser uma forma de “amar a Deus e ao próximo como a si mesmo” por atacado. Em termos práticos, por exemplo, ao participar da administração pública – no lugar de apenas socorrer isoladamente UM irmão que se encontra doente – estaremos agindo para que TODOS os irmãos doentes possam ser socorridos dignamente, independentemente da boa vontade ou da caridade de quem quer que seja!
Sem medo de ser queimado em fogueiras “virtuais”, ouso sugerir que os cristãos muriaeenses deixem de lado suas Bíblias e rezas inconscientes por alguns momentos e debrucem, séria e conscientemente, sobre o texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010, pois “uma pessoa cristã não pode olhar para o mundo e aceitar que continue a vigorar uma política de sobrevivência somente a serviço dos privilegiados pela riqueza” (Item 103). Pode até “olhar para o mundo e aceitar”, mas será impossível fazer uma revisão de si mesma e reconhecer que Jesus Cristo está dentro dela (2 Cor 13,5).
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(1) CONIC - Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil. Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010: Texto-base. Brasília, Edições CNBB, 2009.