21 de fev. de 2010

CFE 2010: SURPRESAS E NÃO-SURPRESAS

Neste sábado, 20.02.10, entre 7h 30min e 17 horas, foi realizado um encontro no Salão Paroquial da Matriz São Paulo, para debater o texto-base da CFE 2010. O tema é: Economia e vida; o lema é: Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro (Mt 6,24).

AS SURPRESAS
O interesse, a educação e a competência de pessoas jovens. A capacidade e o zelo dos presentes nos detalhados estudos feitos do texto-base da Campanha.

A coragem do Padre Marcelo, que transmitiu o recado duro e verdadeiro do profeta Amós (5, 21-24) – coisa que não tive coragem de fazer quando escrevi meu texto sobre a CFE2010:

"Eu detesto e desprezo as festas de vocês; tenho horror dessas reuniões. Ainda que vocês me ofereçam sacrifícios, suas ofertas não me agradarão, nem olharei para as oferendas gordas. Longe de mim o barulho de seus cânticos, nem quero ouvir a música de suas liras. Eu quero, isto sim, é ver brotar o direito como água e correr a justiça como riacho que não seca."

Infelizmente, por deveres de assessoria, não me foi possível ouvir a palestra do Padre Paulo Roberto, o qual, pelas palavras abaixo que escreveu num jornal local, se tornou credor de minha admiração:

"Por isso, não há nada mais errado do que dizer que temos de carregar a cruz que Deus nos dá. É justamente o contrário, a cruz nós a buscamos como conseqüência de decisões mal tomadas, do peso das estruturas injustas ou da ação de outros contra nós.
Hoje sabemos que Deus não castiga, não é vingativo e nem ciumento, pois Jesus revelou de forma mais clara a face do Pai. O Antigo Testamento na sua imperfeição é aperfeiçoado por Cristo.
A morte de Jesus é conseqüência de suas atitudes, decisões e postura frente uma sociedade que usava a religião e o nome de Deus para encobrir toda forma de discriminação, exclusão, injustiça e dominação. [...] A morte de Jesus não é o desejo do Pai. Ninguém que ama desejará a morte do amado."

A coragem do Pastor José Ronaldo que, com clareza e objetividade, disse, com todas as letras, que nossos problemas não se devem aos “arrudas da vida”, mas à nossa omissão no que se refere aos negócios públicos. Desse modo, não transferiu – como esperava que fizesse, em razão de minhas errôneas expectativas sobre pastores evangélicos -- nossos problemas para um Deus antropomórfico que vive lá nas alturas. Trouxe para a terra, mas especificamente, para si e para a comunidade, a responsabilidade de agir na busca do bem comum, rigorosamente de acordo com as diretrizes sobejamente defendidas no texto-base na Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010.

AS NÃO-SURPRESAS

O reduzido número de participantes, considerando a importância do projeto. Um projeto muito mais importante do que as diferentes ações sociais que são empreendidas pelas igrejas, pois se trata de um planejamento global, estratégico e de longo prazo. Como já afirmei – sem ter coragem de me reportar ao profeta Amós --, vale a pena os cristãos deixarem a Bíblia de lado por alguns momentos e debruçarem sobre a vida que se encontra descrita no texto-base da Campanha. É provável que tenhamos falhado na divulgação, mas é muito mais provável que, conforme consta do item 110 do texto-base, “as igrejas precisam fazer perceber que ser servidor do Reino não é só orar, é também testemunhar no mundo os valores do Evangelho”. TESTEMUNHAR NO MUNDO OS VALORES DO EVANGELHO é o grande desafio e, talvez, o verdadeiro e único caminho para a nossa autêntica felicidade aqui na terra e para a nossa eterna salvação depois da morte. Testemunha é a pessoa que presencia um fato, portanto, dentro da igreja, estaremos presenciando apenas pessoas rezando, e – para nossa comodidade -- não estaremos testemunhando no mundo os valores do Evangelho, ou seja, não estaremos testemunhando, certamente, a pobreza, a exclusão, a injustiça e a dominação que levaram (e hoje levariam mais rapidamente ainda!) Jesus à morte. Como dizia o meu pai, talvez plagiando Aristóteles – mas de quem ele nunca tinha ouvido falar: “Tudo tem peso e medida”. E nada me tira da cabeça que, para um elevado número de pessoas, rezar em excesso é meio para tentar manter a consciência relativamente tranqüila pela omissão e, conseqüentemente, por deixar de testemunhar no mundo os valores do Evangelho.
Fotos: http://www.eliasmuratori.com.br/